
Quanto mais freqüento o Planeta Azul, mais percebo a quase infinita diversidade cultural. Há bilhões de terráqueos, que formam tribos, vilarejos, cidades, países e até mesmo impérios. Tudo isto, contendo as mais variadas formas de pensar e interagir no mundo. Mas o que realmente mais me deixa fascinado, é o fato de não existir nenhuma cultura superior ou inferior, pois todas elas fazem parte da mesma orbe, ou seja, se enquadram praticamente na mesma freqüência. A única coisa desagradável, é que os próprios terráqueos ainda não perceberem isto, pois é fortemente presente a falta de respeito entre culturas.
Na medida em que percebemos nos outros a diferença no modo de pensar, temos a oportunidade de enxergar melhor os nossos próprios valores, pois eles realçam em relação à diferença alheia. Este fato também nos leva a descobrir novos mundos terráqueos, pois por incrível que pareça, há vários mundos complexamente diferentes dentro de um mesmo território.
Há também povos sem territórios, como é o caso dos judeus e ciganos, espalhados pelo Planeta Azul. São povos especiais, e devido a esta característica, podem nos ensinar muitas coisas.
Certa vez, estava eu e a Persona Yin vagando por aí, quando nos deparamos com uma tenda cigana. Fiquei curioso para saber como era lá dentro. Não resisti e fui conferir. Ao me aproximar, vi duas mulheres sentadas, entre elas, havia uma mesa com várias cartas de baralho. A Persona Yin disse-me que estavam jogando Tarot.
Enquanto a Persona Yin detalhava-me a respeito do Tarot, alguém nos chamou. Viramos nossos olhares em direção à voz e nos deparamos com a Cigana Kassandra. Ela estava nos convidando para “tirar uma carta”.
Entramos na tenda da Cigana Kassandra e sentamos à sua frente. Ela colocou uma toalha verde na mesa e pegou uma caixa vermelha. Dentro caixa, encontrava-se o Tarot. Olhou fixamente em nós, enquanto embaralhava rapidamente as cartas dizendo algumas palavras em voz baixa. Em seguida, espalhou as cartas uniformemente na mesa e pediu à Persona Yin que escolhesse com a mão esquerda uma carta. E assim foi feito.
A carta tirada representava a “inocência”. Em seguida, a Cigana Kassandra começou a falar:
"A inocência que advém de uma profunda experiência de vida é semelhante à de uma criança, sem ser infantil. A inocência das crianças é bela, mas ignorante. Ela será substituída por desconfiança e dúvida à medida que a criança for crescendo e aprendendo que o mundo pode ser um lugar perigoso e ameaçador. A inocência porém, de uma vida plenamente vivida tem um quê da sabedoria e da aceitação do milagre da vida em eterna mudança. A simbologia da carta diz que se você abandonar o conhecimento (e dentro do conhecimento inclui-se tudo: seu nome, sua identidade, tudo... porque tudo isso lhe foi dado pelos outros), se você abandonar tudo o que lhe foi dado pelos outros, você adquirirá uma qualidade totalmente diferente de ser.
Isso será a crucificação da personalidade, e haverá uma ressurreição da sua inocência; você se tornará outra vez uma criança, renascida."
Agradecemos, levantamos e fomos embora.
Em relação ao que a Cigana Kassandra nos disse, ainda não cheguei a uma conclusão. Tenho que me recolher e meditar, pois só assim conseguirei entender melhor a sua forma de pensar. A única coisa que tenho certeza, é que pelo fato dela ser de uma cultura muito diferente das que eu estou acostumado a lidar, a sua visão de mundo em um primeiro momento me é estranha, porém não é melhor nem pior do que todas as outras que já conheço, e que com toda certeza, eu devo-lhe prestar meu respeito.